22 janeiro 2008

Meu Brasil brasileiro


Porto Seguro – O lugar do descobrimento do Brasil


por Beatriz Amaral-Liebscher


Há mais de 500 anos, quando os portugueses chegaram a Porto Seguro ninguém pensou que essa cidadezinha iria se tornar tão famosa.
No ano passado, visitei Porto Seguro por sete dias e foi uma viagem muito bonita. Nós vimos o lugar onde os portugueses celebraram a primeira missa no Brasil. Eu posso dizer que a semelhança com o quadro de Meirelles sobre a primeira missa é muito forte. Vimos as primeiras igrejas construídas no Brasil e as casas habitadas pelos portugueses. Com um guia particular, aprendemos que na Bahia só se entra na igreja com o pé direito e deve-se fazer três pedidos.
Também fomos à uma cidade chamada Trancoso, um lugar lindíssimo e conhecido internacionalmente. Na Bahia inteira existem muitas igrejas e é claro que não poderia faltar uma em Trancoso. Com todos estes rituais e costumes existentes na Bahia, não deixamos de dar três voltas no pau do casamento que promete um casamento daqui a cinco anos.
Recebemos uma informação muito interessante de um indígena de Porto Seguro. Até hoje, a terra está dividida entre índios e brancos. Uma estrada divide as terras e essas da estrada para o mar pertencem aos brancos e essas da estrada para dentro pertencem aos índios.
Um dia fomos com um barco a vela numa ilha de corais. Lá conhecemos vários bichos do mar e tínhamos a oportunidade de tocá-los e mergulhar com eles. Como alguns bichos como o espinho do mar são muito ponteagudos, tínhamos que alugar tênis para não machucar os pés.
A viagem não foi só cultura. Fomos a praias belíssimas como a praia de Pitinga aonde se podia comer muito peixe delicioso. Conhecemos muito bem a vida noturna de Porto Seguro. Como era um carnaval fora de época, todos os cantores conhecidos se apresentaram nos clubes como por exemplo no ToaToa. Foram shows fantásticos e conhecemos muitas pessoas simpáticas. Eu acho que Porto Seguro oferece um programa especial para cada turista e você deveria passar no mínimo uma semana para conhecer as belezas de Porto Seguro.

14 janeiro 2008

Bruno Bressani: um brasileiro em Salzburg

por Max Kaltner

Bruno Bresani nasceu no Brasil, cresceu no México, estudou no Brasil e agora está morando na Espanha, em Barcelona. No ano passado, foi contemplado pela cidade de Salzburg com uma bolsa que faz parte dum intercâmbio de residências artísticas entre a Áustria e o México. Conheci-o numa aula, onde cheguei atrasado, falando dos trabalhos dele. Arte visual, assim se chama o que ele faz. Visitei-o numa tarde para entrevistá-lo. Morava no Künstlerhaus em Salzburg, num ateliê no segundo andar.
O quarto de paredes grandes e altas, tinha uma galeria onde estava a cama dele. As paredes eram vazias, só havia alguns recortes de jornais colados nelas. Móveis havia poucos, só me lembro do sofá e das duas poltronas onde estávamos sentados. Também tinha um cabide onde colocava seu chapéu negro que usou apenas para fotografá-lo.
Bruno, um jovem artista de 34 anos, filho de pai peruano e mãe brasileira, contou-me um pouco da sua vida. Por motivos políticos, sua mãe teve de deixar o Brasil e fugiu para Cuba. Depois de algum tempo, ele foi morar junto com sua mãe. Lá sua mãe constituiu uma nova família. Conta ainda que seu padrasto teve uma influência decisiva na sua formação.
Mudando de país em país, queria guardar as lembranças e assim começou a fotografar. Impossibilitado de falar com o padrasto e a mãe, expressou suas emoções através da fotografia. Em 1992, candidatou-se na cineteca nacional, uma escola mexicana. Resultou que ele foi um dos dez melhores candidatos, mas o único que veio com mochila de escola. Os outros, todos vestidos de gravata, já sabiam muito sobre arte. Entrou na faculdade onde estudou desenho gráfico de 1993 até 1997. O que o fascinava era a síntese das coisas, que se nota bastante nas obras atuais dele. Depois começou a odiar o desenho gráfico. Seu padrasto então pagou-lhe os estudos numa escola privada, onde recebeu uma bolsa de estudos com a qual pôde financiar o equipamento fotográfico.
Foi estudar na faculdade de fotografia de 1997 até 1999. Nesse tempo, seu padrasto morre e Bruno B., aos 23 anos, expressa a dor da perda em numerosos trabalhos. Trabalha também como fotojornalista no jornal de esquerda que o padrasto havia fundado. Em 2001 entrou na UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México) onde fez o mestrado em artes visuais especializando-se em fotografia. Foi uma época em que ‘vivia sem dormir’.
Bressani trabalha com o efeito do estranhamento ou de desilusão, as fotos da primeira série, por exemplo, parecem mais pinturas que fotografias. Explicou-me isso pela influência de amigos pintores que tinha. Na época ele vivia em Chicago, não conseguia esforçar-se para ir à escola e passou muito tempo visitando museus, o que também explica as fotografias-pinturas. Ele como artista visual quebra a imagem, a foto tradicional, coisa que os fotógrafos clássicos não ousam fazer. Segundo Bressani, a arte visual é toda forma que trabalha com imagens, só que não tanto com a pintura, porque essa implica no tato ou seja a forma do quadro no seu aspecto.
Na sua obra, percebe-se um forte aspecto psicológico seja a respeito dele próprio, seja a respeito do modelo. Pedi-lhe para falar um pouco sobre isso. Na escola havia aprendido a técnica, no mestrado quase nada de novo. O estilo aprendeu nos workshops que fez no ICP (International Center of Photography) em Nova Iorque. A base de seus trabalhos são a catarse, que eu só conhecia do teatro, no sentido de trazer as lembranças do inconsciente para o consciente. Assim trabalha muitas vezes com a ‘fragilidade’ das pessoas.
À minha pergunta se sempre sai com uma idéia concreta de uma foto que ele vai usar depois para seu trabalho, respondeu-me que, por exemplo, aqui em Salzburgo tirou algumas fotos só para mostrar aos amigos e à família, mas que mais tarde, quem sabe, depois podem servir para outra coisa. Também me contou que nem sempre gosta de todas fotos que faz. Na época em que viveu em Edinburgh tirou algumas que hoje não gosta mais, e além disso me aconselhou de nunca lá ir.
Na apresentação realizada na nossa aula, mostrou-nos alguns dos seus trabalhos em vídeos. Tendo-os como parâmetro, perguntei-lhe se tinha algum interesse em realizar algum projeto voltado à literatura, à música, rádio, etc. E de facto tinha vontade de fazer algo com a rádio. Quanto à literatura, disse-me que já está experimentando isso, mas que tem alguns problemas. Ainda sente-se tímido nessas coisas e por um problema de língua e medo de escrever mal, confundindo o português e o espanhol, e a influência de seu padrasto-jornalista, receia não alcançar um padrão tão alto. Contudo li alguns de seus poemas e, francamente, gostei. O que ele quer, seja trabalhando nas fotos, seja escrevendo, é mostrar emoções, e eu acho que consegue bem.
Para o futuro não deseja mais que se apaixonar totalmente, viajar e conhecer pessoas. Coisas que eu acho banais e que, pelo que posso dizer, são típicas para o Bruno. Depois de recebido uma porção de prêmios e de ter alcançado um certo grau de popularidade ainda está crítico de si, considera-se louco e tímido. A sua inquietude faz com que produza trabalhos brilhantes. Eu gostei da pessoa do Bruno, dos trabalhos dele e sobretudo da nossa conversa. Assim quero terminar com uma frase que ele me disse: “O mais importante é ter segurança e é isto que as mulheres querem”.

04 janeiro 2008

Literatura feita por alunos


A mosca da padaria


Um mar de casas simples, só construídas de tijolo, argamassa e um telhado de chapa, estende-se até às montanhas da floresta da Tijuca. A zona norte, para dizer melhor, a zona invisível para os turistas ou a zona da pobreza, é a maior parte da cidade de Rio de Janeiro.
O avião aproximava-se do aeroporto. Thiago olhou pela janela e respirou fundo.
“Rio, finalmente, a cidade das praias bonitas, a cidade do carnaval e das mulheres mais lindas do mundo”, pensava ele enquanto a paisagem e os prédios passavam pela janela. “Como vai ser com a violência? Seria tão perigoso como todo mundo havia falado? Talvez eu seja assaltado já no aeroporto. Que absurdo!” A pista de aterrissagem já aparecia no campo visual. “Espero que ele me busque.” Eles atingiram a terra, a terra do Brasil.

Ao mesmo tempo, em qualquer lugar na zona norte, acontecia um tiroteio. Uma bala perfurou o corpo de um rapaz. Sangue distribuiu-se no chão. Silêncio. Sanguinária uma mosca chegou.
Rafael tinha catorze anos e só ia a caminho da escola.
Isso aqui no Rio se chama “bala perdida” a semelhança do azar.

Thiago abraçou Pedro e eles sorriam com felicidade. Alagado de suor, eles chegaram no apartamento. A subida sinuosa de uma rua só de paralelepípedos cansava muito. Um mototaxi passou atrás de nós.
À noite, a dona da casa veio para cumprimentar o Thiago. Ela gosta de falar. Ela gosta de ganhar dinheiro, explicou-me Pedro um pouco antes. Quase não se podia falar uma palavra. E a dona da casa falava, falava e falava. Mais tarde, finalmente, eles estavam sozinhos.
Pedro: “Ela falou muito, né?”
Thiago: “Demais, você acredita que os moradores da favela lá em cima do morro roubam a luz e a água das casas aqui?”
Pedro: “Pode ser, nunca se sabe.”
Thiago se calou e pensou: “Ela disse que vai aumentar o muro por causa dos moradores de cima, mas eu tenho dúvidas que seja gente ruim e que roube tudo”.

No próximo dia, o trabalho começou. Thiago acordou cedo para chegar a tempo na empresa.

O tempo passou e Thiago já tinha se acostumado no seu novo bairro. Uma vez, enquanto ele subia o morro a pé, um carro com quatro pessoas passou. Eles gritavam muito alto e com armas davam tiros para o ar.
Thiago se assustou muito e se encolheu no muro a seu lado. “Respira, respira”, falou devagar para si mesmo. Uma pessoa passeava e descia a rua tranqüilamente.

A empresa, onde ele trabalha, não andava muito bem e o salário diminuia. Por causa da falta de dinheiro, Thiago começou a procurar um novo apartamento que fosse mais barato.
Assim ele soube que existiam algumas pessoas na favela com um espaço para alugar.
Foi a primeira vez quando ele entrou na favela. Um cachorro dormian na rua. Alguns olhos observavam e perseguiam Thiago até a curva da rua.
Ele passou uma padaria e virou-se, “em uma padaria tem normalmente gente boa que só quer vender as coisas”, pensava ele. “Vou perguntar lá.” Três crianças brincavam na rua. Neste momento, Thiago percebeu as pessoas na pracinha...Todo mundo estava ocupado, arrumava uma coisa ou trabalhava, ou seja, tinha um negócio. Um grupo de camelôs ficava na esquina. Uma pessoa riu, logo a seguir, uma gargalhada.
Ele entrou na padaria e pensava: ”Eles são pessoas normais como eu, como no mundo inteiro. Pessoas que gostam de viver em paz. Gente que faz o próprio trabalho em uma comunidade.
Na porta estava afixado um papelzinho, onde estava escrito: “As filmagems terminarão em final do julho, muito obrigado pela paciência”.
O padeiro levantou-se: “Seja bem-vindo, meu irmão! O que você quer?”

Neste momento, uma mosca pousou no braço de Thiago. Ele sorriu. Sempre haverá moscas! Depende só do “padeiro” se a mosca pode viver em paz.”
Conto de Christian Doppler
aluno de convênio na UFRJ

Literatura feita por austríacos

A mosca da padaria.


Um mar de casas simples, só construídas de tijolo, argamassa e um telhado de chapa, estende-se até às montanhas da floresta da Tijuca. A zona Norte, para dizer melhor, a zona invisível para os turistas ou a zona da pobreza, é a maior parte da cidade de Rio de Janeiro.
O avião aproximava-se do aeroporto. Thiago olhou pela janela e respirou fundo.
“Rio, finalmente, a cidade das praias bonitas, a cidade do carnaval e das mulheres mais lindas do mundo”, pensava ele enquanto a paisagem e os prédios passavam pela janela. “Como vai ser com a violência? Seria tão perigoso como todo mundo havia falado? Talvez eu seja assaltado já no aeroporto. Que absurdo!” A pista de aterrissagem já aparecia no campo visual. “Espero que ele me busque.” Eles atingiram a terra, a terra do Brasil.

Ao mesmo tempo, em qualquer lugar na zona norte, acontecia um tiroteio. Uma bala perfurou o corpo de um rapaz. Sangue distribuiu-se no chão. Silêncio. Sanguinária uma mosca chegou.
Rafael tinha catorze anos e só ia a caminho da escola.
Isso aqui no Rio se chama “bala perdida” a semelhança do azar.

Thiago abraçou Pedro e eles sorriam com felicidade. Alagado de suor, eles chegaram no apartamento deles. A subida sinuosa de uma rua só de paralelepípedos cansava muito. Um mototaxi passou atrás de nós. À noite, a dona da casa veio para cumprimentar o Thiago. Ela gosta de falar. Ela gosta de ganhar dinheiro, explicou-me Pedro um pouco antes. Quase não se podia falar uma palavra. E a dona da casa falava, falava e falar. Mais tarde, finalmente, eles estavam sozinhos.
Pedro: “Ela falou muito, né?”
Thiago: “Demais, você acredita que os moradores da favela lá em cima do morro roubam a luz e a água das casas aqui?”
Pedro: “Pode ser, nunca se sabe.”

Thiago calou-se e pensou: “Ela disse que vai aumentar o muro por causa dos moradores de cima, mas eu tenho dúvidas que seja gente ruim e que roube tudo”. No próximo dia, o trabalho começou. Thiago acordou cedo para chegar a tempo na empresa. O tempo passou e Thiago já tinha se acostumado no seu novo bairro. Uma vez, enquanto ele subia o morro a pé, um carro com quatro pessoas passou. Eles gritavam muito alto e com armas davam tiros para o ar.
Thiago assustou-se muito e encolheu-se no muro a seu lado. “Respira, respira”, falou devagar para si mesmo. Uma pessoa passeava descendo a rua tranqüilamente.

A empresa, onde ele trabalhava, não andava muito bem e o salário diminuia. Por causa da falta de dinheiro, Thiago começou a procurar um novo apartamento que fosse mais barato.
Então ele soube que existiam algumas pessoas na favela com um espaço para alugar.
Foi a primeira vez que ele havia entrado numa favela. Um cachorro dormia na rua. Alguns olhos observavam e perseguiam Thiago até a curva da rua.
Ele passou numa padaria e virou-se, “em uma padaria tem normalmente gente boa que só quer vender as coisas”, pensava ele. “Vou perguntar lá.”Três crianças brincavam na rua. Neste momento, Thiago percebeu as pessoas na pracinha...Todo mundo estava ocupado, arrumava uma coisa ou trabalhava, ou seja, tinha um negócio. Um grupo de camelôs ficava na esquina. Uma pessoa riu, logo a seguir, uma gargalhada.
Ele entrou na padaria e pensava: ”Eles são pessoas normais como eu, como no mundo inteiro. Gente que gosta de viver em paz. Gente que faz o próprio trabalho em uma comunidade.
Na porta estava afixado um papelzinho, onde estava escrito: “As filmagems terminarão em final do julho, muito obrigado pela paciência”,
O padeiro levantou-se: “Seja bem-vindo, meu irmão! O que você quer?”
Neste momento, uma mosca pousou no braço de Thiago. Ele sorriu.

“Sempre haverá moscas! Depende só do “padeiro” se a mosca pode viver em paz!”


Conto de Christian Doppler

aluno de convênio no Rio