por Max KaltnerBruno Bresani nasceu no Brasil, cresceu no México, estudou no Brasil e agora está morando na Espanha, em Barcelona. No ano passado, foi contemplado pela cidade de Salzburg com uma bolsa que faz parte dum intercâmbio de residências artísticas entre a Áustria e o México. Conheci-o numa aula, onde cheguei atrasado, falando dos trabalhos dele. Arte visual, assim se chama o que ele faz. Visitei-o numa tarde para entrevistá-lo. Morava no Künstlerhaus em Salzburg, num ateliê no segundo andar.
O quarto de paredes grandes e altas, tinha uma galeria onde estava a cama dele. As paredes eram vazias, só havia alguns recortes de jornais colados nelas. Móveis havia poucos, só me lembro do sofá e das duas poltronas onde estávamos sentados. Também tinha um cabide onde colocava seu chapéu negro que usou apenas para fotografá-lo.
Bruno, um jovem artista de 34 anos, filho de pai peruano e mãe brasileira, contou-me um pouco da sua vida. Por motivos políticos, sua mãe teve de deixar o Brasil e fugiu para Cuba. Depois de algum tempo, ele foi morar junto com sua mãe. Lá sua mãe constituiu uma nova família. Conta ainda que seu padrasto teve uma influência decisiva na sua formação.
Mudando de país em país, queria guardar as lembranças e assim começou a fotografar. Impossibilitado de falar com o padrasto e a mãe, expressou suas emoções através da fotografia. Em 1992, candidatou-se na cineteca nacional, uma escola mexicana. Resultou que ele foi um dos dez melhores candidatos, mas o único que veio com mochila de escola. Os outros, todos vestidos de gravata, já sabiam muito sobre arte. Entrou na faculdade onde estudou desenho gráfico de 1993 até 1997. O que o fascinava era a síntese das coisas, que se nota bastante nas obras atuais dele. Depois começou a odiar o desenho gráfico. Seu padrasto então pagou-lhe os estudos numa escola privada, onde recebeu uma bolsa de estudos com a qual pôde financiar o equipamento fotográfico.
Foi estudar na faculdade de fotografia de 1997 até 1999. Nesse tempo, seu padrasto morre e Bruno B., aos 23 anos, expressa a dor da perda em numerosos trabalhos. Trabalha também como fotojornalista no jornal de esquerda que o padrasto havia fundado. Em 2001 entrou na UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México) onde fez o mestrado em artes visuais especializando-se em fotografia. Foi uma época em que ‘vivia sem dormir’.
Bressani trabalha com o efeito do estranhamento ou de desilusão, as fotos da primeira série, por exemplo, parecem mais pinturas que fotografias. Explicou-me isso pela influência de amigos pintores que tinha. Na época ele vivia em Chicago, não conseguia esforçar-se para ir à escola e passou muito tempo visitando museus, o que também explica as fotografias-pinturas. Ele como artista visual quebra a imagem, a foto tradicional, coisa que os fotógrafos clássicos não ousam fazer. Segundo Bressani, a arte visual é toda forma que trabalha com imagens, só que não tanto com a pintura, porque essa implica no tato ou seja a forma do quadro no seu aspecto.
Na sua obra, percebe-se um forte aspecto psicológico seja a respeito dele próprio, seja a respeito do modelo. Pedi-lhe para falar um pouco sobre isso. Na escola havia aprendido a técnica, no mestrado quase nada de novo. O estilo aprendeu nos workshops que fez no ICP (International Center of Photography) em Nova Iorque. A base de seus trabalhos são a catarse, que eu só conhecia do teatro, no sentido de trazer as lembranças do inconsciente para o consciente. Assim trabalha muitas vezes com a ‘fragilidade’ das pessoas.
À minha pergunta se sempre sai com uma idéia concreta de uma foto que ele vai usar depois para seu trabalho, respondeu-me que, por exemplo, aqui em Salzburgo tirou algumas fotos só para mostrar aos amigos e à família, mas que mais tarde, quem sabe, depois podem servir para outra coisa. Também me contou que nem sempre gosta de todas fotos que faz. Na época em que viveu em Edinburgh tirou algumas que hoje não gosta mais, e além disso me aconselhou de nunca lá ir.
Na apresentação realizada na nossa aula, mostrou-nos alguns dos seus trabalhos em vídeos. Tendo-os como parâmetro, perguntei-lhe se tinha algum interesse em realizar algum projeto voltado à literatura, à música, rádio, etc. E de facto tinha vontade de fazer algo com a rádio. Quanto à literatura, disse-me que já está experimentando isso, mas que tem alguns problemas. Ainda sente-se tímido nessas coisas e por um problema de língua e medo de escrever mal, confundindo o português e o espanhol, e a influência de seu padrasto-jornalista, receia não alcançar um padrão tão alto. Contudo li alguns de seus poemas e, francamente, gostei. O que ele quer, seja trabalhando nas fotos, seja escrevendo, é mostrar emoções, e eu acho que consegue bem.
Para o futuro não deseja mais que se apaixonar totalmente, viajar e conhecer pessoas. Coisas que eu acho banais e que, pelo que posso dizer, são típicas para o Bruno. Depois de recebido uma porção de prêmios e de ter alcançado um certo grau de popularidade ainda está crítico de si, considera-se louco e tímido. A sua inquietude faz com que produza trabalhos brilhantes. Eu gostei da pessoa do Bruno, dos trabalhos dele e sobretudo da nossa conversa. Assim quero terminar com uma frase que ele me disse: “O mais importante é ter segurança e é isto que as mulheres querem”.