28 janeiro 2011

Uma mala conta

Julia Mayr

Há deeeeeeez anos é que já fico em baixo da cama, abandonada. Desculpa- me sou uma mala masculina. Nenhuma pessoa precisa mais de meus serviços. Me sinto sozinha e inutilizada. Mas não sei por quê?! Lembro- me de dias mais belos que agora. Estive com minha dona em todo o lugar no mundo. Fomos na Inglaterra, na Suíça, nos Paises Baixos, na Itália, na França,..
Que tempos maravilhosos aqueles. E agora? Será que isto foi tudo? Sempre vivia feliz com minha dona. Fazíamos tudo juntas. Nunca a deixava sozinha. Tá bom, admito que não sou o mais jovem. Minha pele já não é mais de um brotinho está usada e apresenta os primeiros traços de velhice. A minha aparência talvez seja para envergonhar- se. Mas isso é importante? Lembro- me que éramos muitos felizes. Ou será que só eu é que era feliz? Nunca tinha pensado nisso.
Não acho que ela tenha sido mais contente com sua vida. Quando acontecia algo ruim, ela fazia as malas e fugia para um outro país. Era sempre só eu que era feliz, não ela. Só eu aproveitava aquele tempo. Como já mencionei, estou deeeeeeeez anos em baixo da sua cama. É uma eternidade! É escuro, tem muito pó e às vezes tenho medo de ficar no escuro. Medo de quê? Não só eu fico em baixo da cama, também alguns bichinhos mais. Um mais repugnante do que o outro. Eles não me deixam em paz. Que nojento! Além disso, essas criaturas enervam, porque usam- me como seu ninho. Desde que os bebês dos bichinhos nasceram tudo é um desastre. À noite não posso mais dormir. Uma vez, um dos milhões de bebês teve fome, um outra vez um dos milhões tem medo....de MIM. É uma vergonha!! Quem é que tem de ter medo de quem? Eu sou uma mala elegante e com bom gosto. Além disso, tenho bons hábitos de higiene ao contrário dos outros. Não há mais silêncio, eles mexericam e riem toda à noite. sahushuaushahusha. Embora não saiba a sua língua, sei que eles falam sobre mim. E estou certo de que não tratem de boas coisas. Me sinto como um estranho.
Não posso fazer nada, porque estão na maioria. Que pena, que minha dona não sabe como tenho de sofrer. Não falamos a mesma língua. Para esquecer minha vida triste, lembro- me sempre dos tempos mais emocionantes que já tive.
Nossa última viagem foi ao Brasil. Foi a viagem mais legal de minha vida. Agora, fico aqui jogado às traças desde que este homem atrativo entrou na vida de minha dona, tudo está mudando. Sei que não tenho nenhuma chance. Mas também ele não é o mais jovem, tem 40 anos. Eu só vinte. Além disso, tem quase uma careca e um nariz enorme. O que é que a minha dona quer deste traste? Uma carcassa como a dele? Tenho mais qualidades do que ele. Tenho só vinte anos, mas sábio e tenho muito experiência de vida, vou a qualquer parte com minha dona e não vou reclamar. Vou fazer sempre os elogios a ela. Não existirá nunca uma outra mulher para mim. Mas sei que ela nunca riu tanto tantas vezes e nunca a vi tão feliz e equilibrada. Desde então, nunca mais arrumou as malas. Talvez percebo que os dois estão a brigar. Esses dias são os meus preferidos. É bom quando vejo que também ele não é perfeito. Sei que ele não quer viajar, quer ficar em casa todo o dia, em frente do televisor. Esse homem é um chato! Aqui pode- se ver a diferença de idade. Na verdade, são VINTE anos. Já mencionei a diferença de idade?? Ah, sim.
Pergunto- me quantos anos um homem poderia viver. Ainda vinte anos? Talvez depois venha a minha chance. Mas ainda vinte anos!!!!! Quanto faz 20 para 1 x milhões? Meu Deus, não consiguirei de sobreviver 20 milhões de bebês de bichinos.
Deve existir uma solução para o meu problema. Estou desesperado.
A coisa melhor para mim, seria fechar os meus olhos e abri- los assim que chegassem dias melhores.
Dormir é sempre a solução melhor. Roncar.................ZZZZZZZZZZZZZZZZ

5 anos depois!!

Não sei quanto tempo passou, mas sei que qualquer coisa mudou. O que é isto?
Parece- me que não tenho mais tanto espaço em baixo da cama como antes. Mas estou sozinho, os bichinos safaram-se... Sinto que não estou sozinho!
Repetinamente vejo- o. Dificil de descrever, mas é marrom, tamanho mediano e tem um cheiro. sensacional. Não posso mais pensar claramente. Amo esse cheiro.. Estou sonhando ou isso é na verdade uma mala do sexo feminina?! Tinha razão, ela chama- se Málaga e tem só cinco anos. Hmmmm Málaga como o sorvete. Já mencionei que esse sorvete é o meu preferido?
Que gatinha! Contou- me que também ela foi abandonada por minha dona. Era um presente de Natal, mas a minha dona não a usava mais. Era por culpa desse homem chato, que não tem mais vontade de viajar... Graças a Deus! É a primeira vez que ele me deu sorte.
Agora estou sozinho, sozinho com essa garota, garotinha e a nossa relação é brilhante! Estou tão feliz. Finalmente tenho sorte na minha vida. Ela me adora. E eu conto- lhe tudo sobre as minhas viagens. Ela não sabe nada, e eu sei tudo. Mas a quem admira? É um sentimento maravilhoso.
A sua única viagem foi da fábrica diretamente para baixo da ávore de Natal. sahushuaushahusha.
Talvez pense na minha dona, mas não muitas vezes. Acho que está ainda feliz com seu namorado. Não entendo porquê, pois ... Tanto faz. Ou seja como for.
O que ouvem os meus ouvidos.. Ahh, os dois estam brigando.
Que alegria........................................

Este conto foi redigido na disciplina de Competência Escrita em Língua Portuguesa e recebeu um prêmio no concurso de literatura no Departamento de Estudos Românicos da Universidade de Salzburg. Parabéns, Julia.

A casa da praia


Tamara Binder


Era uma vez uma casa de praia numa ilha. A casa era azul como o mar e o seu telhado era vermelho, tão vermelho como o sol pondo-se numa tarde morna de verão. Ao longo da varanda branca pululavam vários arbustos. A casa ficava num lugar deserto perto da costa do mar. As ondas arrebentavam só alguns metros da casa que era rodeada por areia fina e limpa. O vizinho próximo ficava a um quilômetro e longe da casa, a trinta minutos de carro, era o centro. Perto da casa erguia-se uma palmeira grande que projetava um pouco de sombra à varanda.
Nesta varanda estava normalmente o cachorro dos donos. O animal, cuja pele se retorcia na brisa leve, estava deitado na sombra observando ora o horizonte infinito ora as galinhas e os pelicanos que ficavam nos arredores da casa. Os donos da casa eram um casal velho. Como ambos eram aposentados, podiam viver na casa da praia o ano todo. O homem passava grande parte do dia pescando enquanto a sua mulher descansava na cadeira de praia lendo romances. Algumas vezes subiam ao seu pequeno barco de vela e rumavam para outras ilhas onde faziam caminhadas pelas florestas verdes refugiando a fauna selvagem.
Não precisavam muito, apreciavam a sua vida na solidão e no isolamento em sua casa de praia. Nenhum dos dois queria nunca abandonar esse lugar tranquilo e lindíssimo.


Texto descritivo realizado no curso de português 2 na Universidade de Salzburg

Cidadezinha qualquer

Lisa-Maria Wilfert

Eta que vidinha

Casas entre montanhas
Mulheres entre as macieiras
Os galos a cantar.

Um lavrador arando.
Um cachorro latindo.
Umas vacas ruminando.

Pode ouvir a grama crescer.

Eta vida tranquilíssima, meu Deus.


O poema de Carlos Drummond de Andrade, Cidadezinha qualquer, inspirou a aluna do curso de português 3 a escrever sobre uma cidadezinha no interior da Áustria.